Gaza: o sofrimento não acabou


22/10/2025

O frágil cessar-fogo em Gaza, que tem sido repetidamente violado, não põe fim ao sofrimento de 2 milhões de pessoas presas em meio à destruição e ao colapso do sistema de saúde.

Durante mais de dois anos de guerra, mais de 67 mil vidas foram perdidas. A maioria das pessoas teve suas casas reduzidas a escombros. Elas não têm para onde retornar. Vivendo em tendas, crianças e adultos seguem sem acesso regular a água potável, comida ou cuidados médicos.

O sistema de saúde foi devastado. Nenhum hospital está totalmente operacional. A situação é crítica.  Milhares de pacientes precisam ser evacuados com urgência para receber os cuidados de que necessitam. Cuidados que hoje não estão disponíveis em Gaza.  Médicos Sem Fronteiras (MSF) apela ao Brasil e a outros países que acolham esses pacientes.

Mesmo sob condições extremas, os profissionais de MSF seguem trabalhando para atender a centenas de pessoas todos os dias. De outubro de 2023 a setembro de 2025, as equipes do MSF em Gaza realizaram mais de:

• 1,2 milhão de consultas ambulatoriais
• 390 mil atendimentos de emergência
• 29 mil cirurgias
• 88,5 mil consultas de doenças crônicas
• 70 mil sessões de saúde mental

Mas as necessidades da população continuam enormes.


As pessoas em Gaza estão sendo deixadas para sobreviver em meio às ruínas do que antes era seu lar. As equipes permanecem ao lado da população, levando cuidados e apoio onde quase nada mais resta.

Com a ajuda de pessoas solidárias, é possível continuar oferecendo cuidados que salvam vidas em catástrofes humanitárias como a que ocorre em Gaza. 

Mais informações: acesse o site Médicos Sem Fronteiras

COP30 - O que é a COP?

16/10/2025

Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC)

A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) foi aberta para assinatura na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio-92). Ela inaugurou o regime multilateral para responder ao aquecimento global.

Seguindo o princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, o regime reconhece a obrigação de que os países desenvolvidos devem liderar os esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e para oferecer recursos financeiros, tecnológicos e de capacitação para ações de mitigação e adaptação em países em desenvolvimento.

São cinco os pilares do regime: mitigação, adaptação, financiamento, tecnologia e capacitação. Além desses, outros temas têm ganhado destaque nos debates, como perdas e danos, transição justa, gênero, povos indígenas, jovens, agricultura e oceanos.

O que é a COP

A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC ou UNFCCC, na sigla em inglês) criou a Conferência das Partes (COP) como órgão responsável por tomar as decisões necessárias para implementar os compromissos assumidos pelos países no combate à mudança do clima. A COP é composta por todos os países que assinaram e ratificaram a Convenção. Atualmente, 198 países participam da UNFCCC, o que faz dela um dos maiores órgãos multilaterais do sistema das Nações Unidas (ONU).

A COP é assessorada por um Órgão Subsidiário de Implementação (SBI) e outro de Aconselhamento Científico e Tecnológico (SBSTA). Além disso, a COP também atua como Reunião das Partes no Protocolo de Quioto (CMP, na sigla em inglês) e no Acordo de Paris (CMA, na sigla em inglês).

O que é conhecido como “COP” são as cúpulas anuais de mudança do clima, que normalmente acontecem em novembro ou dezembro. Nesse contexto, reúnem-se não apenas a COP, mas também a CMP, a CMA, o SBI e o SBSTA.

Protocolo de Quioto e Acordo de Paris

Protocolo de Quioto

No âmbito da UNFCCC, foi adotado, em 1997, o Protocolo de Quioto, que estabeleceu metas quantitativas individuais de redução de emissões a países desenvolvidos. O Protocolo estabeleceu obrigação para que esses países reduzissem suas emissões em 5%, entre 2008 e 2012, em relação aos níveis de 1990.

Um dos elementos importantes do Protocolo foi a criação de mecanismos de mercado para o cumprimento dos compromissos assumidos. Entre eles, destaca-se o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que permitiu o desenvolvimento de projetos rentáveis de redução de emissão de gases do efeito estufa (GEE), garantindo benefícios de mitigação e criando incentivos para a economia sustentável.

Acordo de Paris

O Acordo de Paris, adotado em dezembro de 2015 durante a 21ª Conferência das Partes (COP21), reforçou a centralidade da Convenção-Quadro (UNFCCC), ao qual está vinculado.

O Acordo reforçou os princípios da UNFCCC e introduziu três objetivos:

(iii) manter o aumento da temperatura global bem abaixo de 2º C, com esforços para limitá-lo a 1,5º C;

(iii) incrementar capacidades de adaptação e resiliência; e

(iii) alinhar os fluxos financeiros aos demais objetivos do Acordo.

O Acordo de Paris inovou, ainda, ao criar obrigação para que todos os países, tanto desenvolvidos quanto em desenvolvimento, apresentem periodicamente “Contribuições Nacionalmente Determinadas” (NDCs, na sigla em inglês). Nas NDCs, cada país explica quais ações pretende realizar para responder à mudança do clima. A implementação dessas ações é acompanhada por um regime reforçado de transparência.

Como as NDCs são definidas por cada país, elas respeitam a realidade nacional e a soberania de cada nação.

Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima

O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, IPCC, foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONU Meio Ambiente) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) em 1988 com o objetivo de fornecer aos formuladores de políticas avaliações científicas regulares sobre a mudança do clima, suas implicações e possíveis riscos futuros, bem como para propor opções de adaptação e mitigação. Atualmente, o IPCC possui 195 países membros, entre eles o Brasil.

Por meio de suas avaliações, o IPCC determina o estado do conhecimento sobre a mudança do clima, identifica temas de consenso na comunidade científica, e em quais áreas mais pesquisas são necessárias. Os relatórios resultantes da avaliação do IPCC constituem insumos fundamentais para as negociações internacionais que visam o enfrentamento da mudança do clima.

Grupos de Trabalho e Força-Tarefa

As avaliações e relatórios especiais do IPCC são preparados por três Grupos de Trabalho, cada um olhando para um aspecto diferente da ciência relacionada à da mudança do clima:

Grupo de Trabalho I (Base da Ciência Física),

Grupo de Trabalho II (Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade) e

Grupo de Trabalho III (Mitigação da Mudança do Clima).

O IPCC também possui uma Força-Tarefa sobre Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa, cujo principal objetivo é desenvolver e refinar a metodologia para o cálculo e relatório de emissões e remoções nacionais de gases de efeito estufa.

Os Grupos de Trabalho e a Força-Tarefa lidam com a preparação de relatórios, selecionando e gerenciando os especialistas que neles trabalham neles como autores.

Tudo isso é apoiado por Unidades de Suporte Técnico que orientam a produção de relatórios de avaliação do IPCC e outros produtos.

Glossário IPCC

O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) disponibiliza, em inglês, um glossário de termos técnicos utilizados em seus relatórios e nas negociações de clima. Consultar o glossário pode ajudar no entendimento dos temas discutidos e facilitar o acompanhamento dos debates.

Glossário do IPCC

Fonte: COP30

COP30: Cidades destaca sustentabilidade e parceria público-privada em evento da CNI


15/10/2025

Secretário Hailton Madureira reforçou o papel da agenda urbana nas ações climáticas

O secretário-executivo do Ministério das Cidades, Hailton Madureira, participou nesta quarta-feira (15) da abertura do evento “Pré-COP30 – O papel do setor privado na agenda climática”, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, no âmbito da iniciativa Sustainable Business COP. Também participaram da solenidade o presidente da CNI, Ricardo Alban, o chair da Sustainable Business COP, Ricardo Mussa, e o High-Level Climate Champion da COP30, Dan Ioschpe.

Em sua fala, o secretário representou o ministro das Cidades, Jader Filho, e destacou que o Brasil vive um momento histórico às vésperas da COP30, que será realizada em Belém (PA) em novembro. “Estamos a menos de um mês de um evento que coloca o Brasil e a Amazônia no centro da agenda global. E é nas cidades, onde vivem 87% dos brasileiros, que os efeitos das mudanças climáticas se manifestam com mais força”, afirmou.

O secretário ressaltou que o Ministério das Cidades incorporou de forma permanente a agenda ambiental à formulação das políticas públicas urbanas, por meio da criação da Diretoria de Sustentabilidade, responsável por incluir critérios ecológicos e de eficiência energética em programas como o Minha Casa, Minha Vida e em ações de mobilidade urbana. “Não haverá justiça climática sem justiça urbana. As cidades concentram emissões, mas também são o espaço onde construiremos as soluções”, reforçou.

Foram destacados investimentos do governo federal de R$ 4,7 bilhões em Belém, voltados à infraestrutura urbana associada à COP30, que ficarão de legado para a capital paraense, e mais de R$ 90 bilhões do Ministério das Cidades em ações em todo o país. Os recursos incluem projetos de prevenção de desastres, drenagem urbana, mobilidade sustentável e urbanização de favelas.

O secretário-executivo também anunciou a criação de um fundo para cidades sustentáveis, com previsão de lançamento nas próximas semanas em parceria com a Caixa Econômica Federal, que apoiará municípios — especialmente os pequenos — na elaboração e execução de projetos urbanos com foco ambiental.

Hailton Madureira ressaltou ainda a importância da parceria entre o setor público e a iniciativa privada para a transição verde. “Não vamos conseguir avançar sem o setor privado. É ele que terá papel fundamental na implementação do novo marco do saneamento, na mobilidade e na construção civil”, disse. O ministério vem incentivando o setor da construção civil e empresas que adotem processos de baixo carbono a participar do programa Minha Casa, Minha Vida.

Como exemplo de construção sustentável, o secretário citou o projeto de 45 casas ecológicas na Ilha do Combu, em Belém, construídas com madeira apreendida e equipadas com sistemas de captação de água da chuva, que serão apresentadas durante a COP30.

“O Brasil tem uma matriz elétrica 80% limpa e condições únicas de liderar a transição verde. Temos um desafio e oportunidade, de tornar a COP30 em um exemplo de convergência entre os setores público e privado, mostrando que desenvolvimento e sustentabilidade não são caminhos opostos”, concluiu.

Fonte: Ministério das Cidades

Mundo atinge seu primeiro ponto de não retorno

© Shutterstock / Sabangvideo / WWF

13/10/2025

Mortalidade generalizada dos recifes de corais de águas quentes pode ser o primeiro ponto de não retorno ultrapassado

Por WWF-Brasil e WWF 

Com o aquecimento global prestes a ultrapassar 1,5 °C, o mundo enfrenta uma “nova realidade”, pois já atingimos o primeiro de muitos pontos de inflexão do sistema terrestre que causarão danos catastróficos, a menos que a humanidade tome medidas urgentes. Esta é a principal conclusão de um relatório histórico divulgado hoje (13 de outubro) pela Universidade de Exeter e parceiros internacionais. 

Lançado no dia em que a pré-COP começa em Brasília, onde negociadores dos países que aderiram ao Acordo de Paris têm a oportunidade de avançar no enfrentamento da crise climática, o segundo Relatório Global sobre Pontos de Inflexão traz um forte alerta: ele conclui que os recifes de corais de águas quentes, dos quais dependem quase um bilhão de pessoas e um quarto de toda a vida marinha, já estão ultrapassando seu ponto de inflexão. Está ocorrendo uma morte generalizada e, a menos que o aquecimento global seja revertido, os extensos recifes como os conhecemos serão perdidos, embora pequenos refúgios possam sobreviver e devam ser protegidos. 

Helga Correa, especialista em Conservação do WWF-Brasil afirma que o relatório é um lembrete contundente de que estamos ultrapassando os limites críticos do planeta. “A Amazônia, que ainda pode desempenhar um papel decisivo na regulação do clima global, está se aproximando perigosamente de um ponto de não retorno. A boa notícia é que ainda há caminhos para reverter essa trajetória, com políticas de conservação robustas, valorização dos povos da floresta e investimentos em restauração e um modelo de desenvolvimento inclusivo e sustentável".  

Segundo a especialista, o caminho para um futuro seguro e sustentável passa por abraçar os 'pontos de virada positivos', como a rápida adoção de energias limpas e a restauração de ecossistemas. "O trabalho com a Presidência da COP30 visa exatamente isso: criar uma cascata de mudanças positivas onde a inovação sustentável se torne a opção mais atraente e acessível. É fundamental que governos, empresas e a sociedade ajam juntos para que o Brasil maximize seu potencial em tecnologias verdes e promova essa transformação global."   

Para o Dr. Mike Barrett, consultor científico chefe da WWF-UK e coautor do relatório, as conclusões deste relatório são extremamente alarmantes: “O fato de os recifes de corais de águas quentes estarem ultrapassando seu ponto de inflexão térmico é uma tragédia para a natureza e para as pessoas que dependem deles para obter alimento e renda. Esta situação sombria deve servir como um alerta de que, a menos que ajamos de forma decisiva agora, também perderemos a floresta amazônica, geleiras e as correntes oceânicas vitais. Nesse cenário, estaríamos diante de um resultado verdadeiramente catastrófico para toda a humanidade. À medida que nos aproximamos das negociações climáticas da COP30, é vital que todas as partes compreendam a gravidade da situação e a extensão do que todos temos a perder se as crises climáticas e de biodiversidade não forem enfrentadas. As soluções estão ao nosso alcance. Os países devem mostrar coragem política e liderança para trabalhar juntos e alcançá-las.” 

O estudo mostra também que outros pontos de inflexão, como o derretimento irreversível das camadas de gelo polares, o colapso das principais correntes oceânicas e a morte da floresta amazônica, onde será realizada a COP30, estão perto de serem atingidos, o que ocasionaria riscos devastadores para as pessoas e a natureza. 

Elaborado por 160 cientistas de 87 instituições em 23 países, o relatório reforça o apelo para que os países diminuam o aumento da temperatura para evitar ultrapassar mais pontos de inflexão. Os cientistas alertam que cada fração de grau e cada ano acima de 1,5 °C são importantes. 

O professor Tim Lenton, do Instituto de Sistemas Globais da Universidade de Exeter, afirmou: “Estamos nos aproximando rapidamente de vários pontos de inflexão do sistema terrestre que podem transformar nosso mundo, com consequências devastadoras para as pessoas e a natureza. Isso exige uma ação imediata e sem precedentes dos líderes da COP30 e dos formuladores de políticas em todo o mundo.”  

O relatório também alerta que a característica abrupta e irreversível dos pontos de inflexão do sistema terrestre significa que eles representam um tipo diferente de ameaça em relação a outros desafios ambientais, e que as políticas e os processos de tomada de decisão atuais não são adequados para responder a eles. A ação global deve incluir a aceleração da redução das emissões e o aumento da remoção de carbono para minimizar o aumento excessivo da temperatura. Os impactos esperados dos processos de não retorno precisam ser considerados nas avaliações de risco, nas políticas de adaptação, nos mecanismos de perdas e danos e nos litígios de direitos humanos. 

A Dra. Manjana Milkoreit, da Universidade de Oslo, afirmou: “O pensamento político atual não costuma levar em conta os pontos de inflexão. Os pontos de inflexão apresentam desafios de governança distintos em comparação com outros aspectos das mudanças climáticas ou do declínio ambiental, exigindo tanto inovações na governança quanto reformas das instituições existentes. 

“Prevenir pontos de não retorno requer medidas de mitigação antecipadas que minimizem o pico da temperatura global, a duração do período acima de 1,5 °C e o tempo de retorno abaixo de 1,5 °C. Abordagens sustentáveis de remoção de dióxido de carbono precisam ser rapidamente ampliadas para alcançar esse objetivo.” 

Autores trabalham com presidência da COP30 em pontos de virada positivos 

O estudo aponta ainda ações para desencadear “pontos de inflexão positivos”, como a implantação de tecnologias verdes.  Nos dois anos desde o primeiro Relatório Global sobre Pontos de Inflexão, houve uma aceleração global radical em algumas áreas, incluindo a adoção de energia solar e veículos elétricos. Segundo os pesquisadores, pontos de inflexão positivos oferecem o único caminho confiável para um futuro seguro, justo e sustentável, afirma o relatório. Eles estão trabalhando com a Presidência da COP30 do Brasil para garantir que os pontos de inflexão estejam na agenda da cúpula. 

“Precisamos fazer mais e agir mais rapidamente para aproveitar as oportunidades positivas dos pontos de virada. Ao fazer isso, podemos reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa e afastar o mundo de pontos de não retorno catastróficos, rumo a um futuro próspero e sustentável”, alerta Tim Lenton. 

Os autores do relatório estão trabalhando com a Presidência da COP30 do Brasil na “Agenda de Ação” como uma plataforma para acelerar os planos de transição climática e desencadear mudanças auto-reforçadas em diferentes setores da agricultura à energia, das florestas às cidades, rumo a uma transformação global de baixo carbono e resiliente ao clima. 

O presidente designado da COP30 no Brasil, embaixador André Corrêa do Lago, afirmou: “Como parte de uma mobilização global contra as mudanças climáticas, nosso ‘Mutirão Global’, a Presidência da COP30 convidou líderes comunitários, acadêmicos e cientistas para explorar o melhor da ciência disponível e da sabedoria ancestral sobre como nossas instituições podem ganhar exponencialidade na implantação de soluções e versatilidade na resposta à crise climática, inclusive por meio de capacidades ágeis, iterativas e adaptativas. Acolho o Relatório Global Tipping Points como uma resposta positiva e oportuna ao nosso convite. O relatório é uma evidência esperançosa e sóbria de que a humanidade ainda pode optar por mudar e evoluir em direção a um futuro seguro, próspero e equitativo.” 

O relatório destaca o progresso em pontos de inflexão positivos e oportunidades para uma cascata de mudanças positivas: 

Pontos de virada positivos já foram alcançados globalmente nas energias solar fotovoltaica e eólica, assim como na adoção de veículos elétricos, no armazenamento de baterias e nas bombas de calor nos principais mercados. Essas transições ainda podem ser aceleradas. A ação política coordenada em “pontos de superalavancagem” pode desencadear cascatas de pontos de inflexão positivos em setores interativos (por exemplo, energia, transporte e aquecimento), antecipando a inflexão em todos eles. Uma vez substituídas, é improvável que as tecnologias poluentes retornem, pois as novas opções são mais baratas e melhores. As atitudes sociais também estão mudando. A preocupação com as mudanças climáticas está crescendo globalmente e mesmo um pequeno número de pessoas pode influenciar a maioria. 

Mais pontos de virada positivos estão se aproximando em setores como o transporte de mercadorias. O Brasil, país anfitrião da COP30, tem grande potencial para produzir aço verde, hidrogênio verde e amônia verde, ajudando a impulsionar essas tecnologias cruciais em todo o mundo. Pontos de inflexão positivos podem restaurar rapidamente a natureza e a biodiversidade. A restauração do ecossistema pode devolver a saúde aos sistemas degradados, e a mudança para padrões mais sustentáveis de consumo e produção pode levar a pontos de inflexão nas cadeias de abastecimento de alimentos e fibras, acabando com o desmatamento e a conversão do ecossistema. 

Precisamos identificar e desencadear muitos mais pontos de virada positivos. São necessários melhores indicadores para compreender o potencial de inflexão. Uma vez identificados, os pontos de inflexão positivos são possibilitados ao tornar a inovação desejada a opção mais acessível, atraente e/ou com melhor custo-benefício. Governos, empresas, sociedade civil e indivíduos têm um papel a desempenhar. As pessoas compreendem a necessidade de mudança e apoiam a transição para um mundo mais limpo e saudável, desde que seja feita de forma justa. O sucesso pode depender de seguir um caminho de menor polarização. A Presidência da COP30 lançou um Mutirão Global (que significa “esforços coletivos”) para incentivar a ação climática em todo o mundo. 

Estudos de caso 

O relatório inclui estudos de caso sobre vários pontos de inflexão do sistema terrestre: 

Globalmente, os recifes de corais de águas quentes estão sofrendo uma mortalidade sem precedentes devido a repetidos eventos de branqueamento em massa. Com o aquecimento global atual em cerca de 1,4 °C, os recifes estão ultrapassando seu ponto de inflexão térmica (estimativa central de 1,2 °C, variação de 1 a 1,5 °C). Mesmo estabilizando o aquecimento em 1,5 °C, é praticamente certo (probabilidade superior a 99%) que os recifes de corais de águas quentes cheguem ao ponto de inflexão. Isso significa que os recifes de corais em qualquer escala significativa serão perdidos, a menos que a temperatura global retorne a um aquecimento de 1 °C ou menos, embora fragmentos de recifes possam ser preservados com ações de conservação que minimizem outros fatores de estresse humanos, como a pesca excessiva e a poluição. Avaliações de risco regionais e governança são urgentemente necessárias para se preparar para a crescente perda dos serviços ecossistêmicos prestados pelos recifes. 

O relatório conclui que embora o aumento da temperatura que provocaria o declínio generalizado da floresta amazônica devido a uma combinação de mudanças climáticas e desmatamento seja menor do que se pensava anteriormente, ele ainda se encontra na faixa de 1,5 °C, destacando a necessidade de ação urgente. Mais de cem milhões de pessoas dependem da Amazônia. O estudo aponta que, por outro lado, o bioma também pode estar sujeito a pontos de inflexão sociais positivos: a governança local inclusiva (incluindo os povos indígenas), o reconhecimento do conhecimento tradicional e investimentos direcionados em conservação e restauração podem aumentar a resiliência das pessoas e da natureza. 

A Circulação Meridional de Retorno do Atlântico (AMOC) corre o risco de entrar em colapso abaixo de 2 °C de aquecimento global. Isso resultaria em invernos muito mais rigorosos no noroeste da Europa, perturbaria as monções da África Ocidental e da Índia e diminuiria a produtividade agrícola em grande parte do mundo, com impactos significativos para a segurança alimentar global. 

O professor Lenton concluiu: “Somente com uma combinação de políticas decisivas e ações da sociedade civil o mundo poderá mudar sua trajetória de enfrentar riscos existenciais de pontos de inflexão do sistema terrestre para aproveitar oportunidades positivas de pontos de inflexão”. 

Fonte: WWF-Brasil

Plataforma Saúde do Solo BR será lançada na COP30, em Belém

Foto: Fabiano Bastos


26/09/2025

Por: Juliana Caldas - Embrapa Cerrados 

A Plataforma Saúde do Solo BR: Big Data para Solos Resilientes e Sistemas Alimentares será lançada na AgriZone, durante a COP30, que acontece de 10 a 21 de novembro, em Belém (PA). O evento de lançamento está marcado para o dia 17 de novembro, às 11h. A plataforma é uma ferramenta inédita que transforma dados em conhecimento, apoiando agricultores, pesquisadores e gestores na construção de uma agricultura sustentável, resiliente e de baixo carbono.

A iniciativa democratiza o acesso da sociedade brasileira ao maior banco de dados de saúde do solo do mundo, criado cinco anos depois do lançamento da tecnologia de Bioanálise de Solo (BioAS). “Hoje o Brasil detém um banco de dados de saúde do solo sem precedentes, baseado na atividade enzimática e nos teores de matéria orgânica. Esse banco é dinâmico e cresce a cada dia. Nesse primeiro momento, vamos disponibilizar os resultados das primeiras 52 mil amostras”, destaca a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Ieda Mendes.

O banco de dados está sendo construído por meio de uma parceria inovadora com os 33 laboratórios comerciais de análises de solo, membros da Rede Embrapa que utilizam a tecnologia BioAS. O Brasil foi pioneiro ao incluir parâmetros biológicos nas análises de rotina, mostrando que avaliar a saúde do solo em larga escala pode ser um processo simples e acessível. Segundo a pesquisadora Ieda, a escolha da plataforma para lançamento durante a COP30 foi recebida com entusiasmo. “Foi com grande alegria que recebemos essa notícia”, comemora.

 “A criação da Plataforma Saúde do Solo é um desdobramento natural da ampla adoção da Tecnologia de Bioanálise de Solo (BioAS) no Brasil”, avalia o pesquisador Guilherme Chaer, da Embrapa Agrobiologia. Segundo ele, a análise integrada dos dados possibilita classificar cada amostra dentro de padrões de saúde do solo. O sistema de classificação considera os resultados das análises químicas e biológicas, e organiza os solos em cinco padrões: saudável, em processo de degradação (adoecendo), degradado (doente), em recuperação e intermediário.

Outro diferencial da Plataforma é o mapa de tendência do carbono do solo (TCS), que se baseia no Índice de Tendência do Carbono do Solo (ITCS), calculado a partir dos bioindicadores da BioAS em conjunto com os teores de matéria orgânica do solo (MOS). “O ITCS parte do princípio de equilíbrio entre MOS e atividade biológica: em sistemas naturais ou manejados de forma estável por longos períodos, observa-se um balanço bioquímico entre ambos. Alterações nas práticas de manejo rompem esse equilíbrio temporariamente e os bioindicadores permitem detectar a direção e a intensidade das mudanças, sinalizando tendências futuras da MOS”, explicou.

A ferramenta

A Plataforma Saúde do Solo reúne os dados de todas as bioanálises realizadas pelos laboratórios da Rede BioAS no território nacional. As informações são coletadas e armazenadas de forma anônima pela Embrapa. O grande volume de informações permite gerar mapas e estatísticas sobre a saúde dos solos em escalas municipal, estadual e nacional — o principal objetivo da Plataforma.

A plataforma disponibiliza índices de ciclagem, armazenamento e suprimento de nutrientes, além da classificação da saúde do solo e do Mapa de Tendência do Carbono do Solo (TCS), que estima se o solo tende a ganhar ou perder carbono. Os usuários poderão explorar os dados por meio de filtros que permitem consultas em diferentes escalas espaciais e temporais, seleção por culturas agrícolas e classes texturais de solo. A plataforma ainda possibilitará a visualização simultânea de dois mapas comparativos, favorecendo análises paralelas.

COP30

A AgriZone integra a Jornada pelo Clima, iniciativa da Embrapa que busca ampliar o conhecimento da sociedade sobre a questão climática e divulgar tecnologias, pesquisas e soluções desenvolvidas pela ciência brasileira nessa área. O projeto conta com patrocínio máster do Senar; patrocínio Diamante+Ouro da Nestlé; patrocínio Diamante da Bayer e do IICA; patrocínio Ouro+Bioma Local da Caixa; e parceria institucional do Sebrae.

Fonte: Embrapa

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